
"Django Livre" para mim é um filme difícil de se falar. Até o momento eu já assisti ao filme 3 vezes e não sei como começar esse texto. Se eu fiquei sem palavras? Não exatamente. O filme é impecável? Não exatamente. Vamos começar a ser mais exatos.
Estamos às vésperas da Guerra Civil (outro filme com a Guerra Civil como contexto [ou pré] concorrendo ao Oscar esse ano), e acompanhamos a jornada do escravo Django (Jamie Foxx) e seu parceiro e libertador Dr. Schultz (Christoph Waltz) desde seu primeiro encontro até a busca pela esposa de Django, Broomhilda (Kerry Washington). Aqui, Tarantino brinca com a mescla de gêneros. Do faroeste clássico, passando pelo spaghetti até o blaxpolitation, Tarantino cria sua narrativa de 165 minutos, duração da versão de cinema, já que rola boatos que haveria uma versão do diretor com teóricas 5 horas de duração. (A versão de cinema teria mais ou menos 3 horas, mas Tarantino não queria um filme tão longo assim.)
Se já podemos citar um dos problemas do filme, vamos falar da edição de Fred Raskin, um dos maiores (e únicos problemas do filme). Se no começo, ficamos empolgados e mal vemos a hora passar, o filme, devido a sua edição, a segunda metade se torna algo arrastado, embora seja cheia consiga fluir muito bem. Essa é a primeira vez que um filme de Tarantino tem problemas na edição, já que Sally Menkie, editora de todas as outras produções de Tarantino, morreu em 2010. E o problema da edição não ajuda nem um pouco a sua longa duração.
Como a trilha sonora dos filmes anteriores de Tarantino são excelentes e se encaixam perfeitamente no roteiro, a de "Django Livre" não é nenhuma exceção. Misturando Delta blues, soul e hip-hop ao longo do filme (e às vezes, rapidamente, como a sequencia na qual ele usa "Who Did That To You" para no minuto seguinte, usar "Too Old to Die", causando uma leve estranheza), as músicas se encaixam perfeitamente nas cenas e nos personagens. Um exemplo é o uso da música "His Name Is King", ao mostrar Django (Foxx) cavalgando com o Dr. KING Schultz (Waltz).
Vale comentar que o humor do filme está bem posicionado, levando leveza no meio de tanta violência e cenas fortes. Ele passeia pelo humor negro até chegar ao pastelão, apresentando uma sequência na qual uma Ku-Klux-Klan fajuta tenta atacar Django e Schultz, mas é atrapalhada pela péssima qualidade de suas máscaras, que é hilária e completamente inusitada.
É bastante interessante acompanhar a mudança de Django (Foxx) ao longo do filme. Se no começo, o vemos de escravo a assistente de caçador de recompensas, hesitando ao matar o "cara malvado" na frente de seu filho, ele se transforma numa pessoa sem piedade badass. A atuação de Christoph Waltz como Dr. Schultz merece aplausos, pois ele nos mostra um personagem incrivelmente foda, que quando não está caçando procurados, é um sujeito extremamente simpático e humano (as cenas na qual ele interage com Django recém liberto são divertidíssimas, graças ao seus trejeitos e na minha opinião, por mais estranho que seja, o sotaque).
Enquanto Leonardo DiCaprio cria um dos vilões mais filhos da puta já vistos, Samuel L. Jackson é que rouba a cena com seu Stephen, um escravo livre, assim como Django, que não deixou a fazenda de seu patrão e que na verdade, parece mandar mais lá do que o próprio. Destaque para DiCaprio na cena na qual ele surta no final do jantar, descobrindo a verdadeira natureza de seus hóspedes.
E por mais incrível que esteja no papel de Broomhilda, Kerry Washington é apenas a princesa esperando para ser resgatada da torre. Não é a toa que há uma forte semelhança entre a trama do filme com a lenda alemã envolvendo uma princesa chamada Broomhilda que é resgatada de uma torre por Siegfried. A cena na qual Schultz a conta para Django se torna interessante pelo fato de ser contada como uma lenda antiga mesmo, perto de uma fogueira e com Waltz fazendo gestos ilustrando a lenda.
Abusando dos sotaques, do sangue e dos palavrões, Tarantino consegue montar uma narrativa envolvente, cercada de personagens carismáticos (e isso inclui o vilão), que, soando clichê ou não, chama a atenção do espectador desde os estilosos créditos iniciais.
Nota: 4.5/5
Observação 1: Ao fim dos curtos créditos finais, há uma cena extra curta, porém divertida.
Observação 2: Tarantino resolve dar as caras nesse filme, numa ponta engraçadinha numa cena que mesmo importante para a resolução, é um pouco arrastada e parece mais a Kristen Wiig apresentando um prêmio do Globo de Ouro com o Will Farrell.
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