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Leva ela na Lua por mim, tá?


ESSE TEXTO POSSUI SPOILERS DE "DIVERTIDA MENTE". LEIA POR SUA CONTA E RISCO.

"- A Riley me esqueceu? [...] Eu tinha até um plano de viagem.
- Que pena que levaram seu foguete. Era uma coisa que você amava. Se foi. Para sempre.
[...]
-  Era tudo que eu tinha da Riley.
- Aposto que vocês tem várias lembranças juntos.
- Tenho muitas. Nós já voltamos no tempo pra tomar café duas vezes.
[...]
- Que incrível. A Riley gostou?
- Gostou, sim... Minha melhor amiga."
Bing Bong é o amigo imaginário de Riley, que agora vive no labirinto de memórias a longo prazo, "pegando emprestado" algumas delas. Nunca sabemos ao certo o que ele fazia pegando lembranças pela mente de Riley, mas todos podemos imaginar que aquelas talvez sejam suas memórias com ela, pelo menos as que não foram esquecidas. As crianças crescem. Os amigos imaginários já não possuem mais o mesmo espaço em suas vidas. Alguns servem até como história constrangedora que seus pais vão acabar contando e que geralmente começa com as palavras "lembra do". Isso vale até mesmo para alguns amigos que não fazem parte da nossa imaginação. Crescemos e deixamos algumas coisas pelo caminho.

Chegando às memórias que foram esquecidas e que logo serão apagadas, Alegria encontra várias lembranças das quais não tinha recordação. Memórias da infância de Riley, boas, simples, mas esquecidas. Ao tentarem chegar à superfície, Bing Bong, vendo que o seu processo de esquecimento já começou, decide abandonar o carrinho na hora certa para que Alegria consiga sair do abismo. E como suas últimas palavras, tudo que o simpático amigo imaginário pode dizer é: "Leva ela na Lua por mim, tá?"



Fazemos planos. Imaginamos nosso futuro e como ele será com a pessoa que atualmente está ao nosso lado (sendo um amigo ou até algo mais). Montamos nosso foguete para ir à Lua com nosso Bing Bong e no final,  pode ser que seu destino nada mais é do que ficar junto às lembranças que você nem sabia que estavam lá. Aquelas que serão lembradas na base do "lembra do".

Como eu disse na resenha, fiquei quase 11 anos sem assistir um filme da Pixar no cinema. Ainda não cheguei a viver nem 30% da minha vida, mas com certeza não sou mais o mesmo moleque que estava saindo de mais uma sessão de "Os Incríveis" no mesmo cinema no começo de 2005. Claro, o cinema continua insistindo na projeção em película em 80% de suas salas, mas também não é mais o mesmo. Não existem mais as câmeras no saguão, que permitiam aos funcionários (e até aos clientes que por ali passavam) ver como estavam as salas e em que ponto estavam os filmes. E os cartazes dos filmes em exibição não ficam mais agrupados em uma parede no centro do cinema.



Não estou mais no colégio. A rotina já não é mais a mesma. Não vejo mais as pessoas com a frequência de antes. Agora é preciso fazer um incrível planejamento prévio e torcer para que as estrelas se alinhem porque, vamos encarar a realidade, as outras pessoas já não tem mais o mesmo tempo livre de antes. Na reta final, porém, você faz planos, seus amigos fazem planos, vocês fazem planos juntos. Fazem o seu plano para viajar até a Lua com seu foguete feito a partir de um carrinho de mão vermelho.

O problema é que a vida não poderia ligar menos para esses planos. Na primeira oportunidade, eles apanharão até que alguém tente separar a briga. E é esse o destino do nosso amigo Bing Bong. Ele era necessário para ajudar a empurrar o carrinho, mas a verdade é que seu peso faz com que Alegria nunca consiga sair do abismo. Claro, isso é uma questão de Física e um simples efeito de dramatização do roteiro, mas como membro do grupo de humanas, eu não poderia deixar essa cena ser apenas isso.



Ainda queremos chegar à Lua, mas às vezes não podemos chegar lá com nosso amigo Bing Bong. Ele não é nada além de um amigo imaginário, que gerou memórias tão boas quanto qualquer outra, mas talvez ele não seja a pessoa mais indicada para nos levar à Lua. Todos nós temos o nosso Bing Bong. Aquele com quem temos boas memórias, que ajuda nossa Alegria a sair do abismo, mas que no final, é bem provável que não chegue lá conosco. E sim, todos nós somos o Bing Bong de alguém. Podemos ser parte de boas lembranças, podemos até conseguir ajudar sua Alegria a sair do abismo, mas no final, podemos fazer peso demais, precisando assim parar de lutar contra o esquecimento e deixar que outro alguém leve nossa Riley à Lua.

O esquecimento é inevitável. Por melhores que sejam as lembranças, não conseguiremos levar conosco para sempre e outras fazem tanto peso que, por melhores que sejam, precisamos deixá-las perder sua cor e se desmantelarem em paz.

Então, o que quero dizer, se é que estou dizendo alguma coisa aqui é: obrigado aos meus Bing Bongs e me desculpe se eu acabar esquecendo de vocês pelo caminho. Obrigado às (aos) Rileys que deixaram que eu fizesse parte de algumas de suas lembranças boas. Não tem problema se acabarem me esquecendo ou se já o fizeram. Está tudo bem, de verdade. Por último, e não menos importante, um recado para a Alegria: "Leva ela na Lua por mim, tá?"


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