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O futuro nostálgico de "Tomorrowland"





Antigamente o mundo imaginava um futuro brilhante, com carros voadores, mochilas a jato, paisagens "limpas" e uma sociedade vivendo em harmonia. Depois da Guerra Fria, essa imagem mudou. O futuro deixou de ser a utopia carregada de imaginação otimista e cores claras e passou a apresentar uma paleta de cores acinzentada e a sociedade começou a ser cada vez mais caótica. Um exemplo disso são os filmes, livros, HQs e afins que apresentam essa temática e que vem ganhado espaço na cultura pop, como The Walking Dead, Jogos Vorazes, até mesmo Interestelar. O aquecimento global é uma realidade e realmente estamos mais inclinados a aceitar as teorias mais pessimistas para os próximos anos. Talvez seja por isso que eu tenha gostado tanto de "Tomorrowland - Um Lugar Onde Nada É Impossível" (sim, esse é o nosso subtítulo).

O filme, dirigido pelo (incrível) Brad Bird (Missão: Impossível - Protocolo Fantasma) e escrito pelo mesmo e Damon Lindelof, tem início em 1964, com o pequeno e otimista Frank Walker (Thomas Robinson) visitando a Feira Mundial em Nova Iorque, onde o mundo procurava ideias que poderiam fazer um futuro melhor. Embora sua invenção não tenha funcionado como o esperado, Frank atrai a atenção de Athena (Raffey Cassidy), garota que acompanha um dos jurados do evento, Nix (Hugh Laurie). Athena consegue levar Frank para conhecer Tomorrowland, uma cidade formada e habitada pelas mentes mais brilhantes da sociedade. Depois dessa apresentação, descobrimos que algo dá errado e a jovem Casey Newton (Britt Robertson) é recrutada por Athena e precisa chegar a Tomorrowland com a ajuda de Frank, agora mais velho, menos otimista e interpretado por George Clooney.



Durante os 130 minutos de projeção, temos a impressão de estarmos em casa assistindo a um filme de aventura na Sessão da Tarde, com todas as suas cenas de ação divertidas e incrivelmente pontuais ao longo da narrativa. Além disso, nas primeiras vezes que vemos Tomorrowland, vemos a cidade em toda sua glória em planos-sequência de cair o queixo, tudo graças ao design de produção incrível de Scott Chambliss. As roupas coloridas, a arquitetura do lugar e as invenções ali mostradas servem muito bem ao seu propósito de formar o que será nossa visão da cidade até o terceiro ato. É impossível não sentir o embasbacamento ao abrir um sorriso enquanto andamos pela cidade (tudo isso reforçado pela excelente trilha sonora de Michael Giacchino, que aumenta ainda mais a sensação de aventura da Sessão da Tarde).

Além disso, o filme conta com performances carismáticas de Clooney e Robertson, que apresentam uma química em tela impressionante mesmo estando fora dela (vejam o filme e entendam), mas o destaque fica mesmo para Raffey Cassidy, que jamais tenta realizar um trabalho que o tipo de personagem dela teria recebido em mãos menos capazes, além de ser a dona dos melhores momentos de interação com os atores e das cenas de ação, mas o importante é ver Bird entendendo que, por melhor que seja a estética do filme ou o talento dos atores, devemos nos importar com a jornada dos personagens, principalmente numa estrada cheia de buracos.



Deixe-me dizer de imediato que o filme não está nem um pouco perto de ter um ritmo perfeito. Muitas das vezes, o longa embarca em diálogos e situações que parecem maiores do que deveriam (observe a primeira sequência na fazenda de Frank, que embora divertida, parece tomar um tempo de tela desnecessário). Isso é uma pena, uma vez que a edição foi incrivelmente habilidosa em dar ritmo naquela que seria a parte mais problemática do filme (reparem em como as cenas das aulas de Casey são bem costuradas). Além disso, temos um vilão que foi caracterizado equivocadamente, uma vez que a história não consegue convencer o público dos motivos que levam o personagem a ser o vilão. Aliás, o diálogo feito por Nix é incrivelmente bem executado ao apontar nossos "recentes fetiches" em relação aos futuros distópicos que nos são apresentados e como temos epidemias de obesidade e fome coexistindo, além de outras coisas.

Ao final de "Tomorrowland", eu consegui entender o seu fracasso nas bilheterias (Tron 3 mandou um beijo). Não temos zumbis, robôs, doenças ou invasões alienígenas. Não temos um roteiro exemplar e muito menos uma história que flui sem dificuldade, mas temos um filme que merece ser visto pela criança dentro de cada um de nós. Aquela criança que acharia legal voar pela cidade com uma mochila a jato, que gostaria de viver em Tomorrowland, embarcando em suas naves e seus trens flutuantes. Pelo menos vimos um mundo que não estava completamente cinza ou destruído. Vimos um mundo no qual realmente gostaríamos de viver (vem cá, você realmente vai continuar dizendo que gostaria de viver num apocalipse zumbi?) e às vezes, não é para isso que vamos ao cinema?

Nota: 3.5/5

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