A primeira coisa que vemos no início da projeção de "Esquadrão Suicida" são os logos das empresas envolvidas banhados em cores fluorescentes e uma música escolhida para nos apresentar ao personagem Pistoleiro (Will Smith) com estilo. Logo depois dessa abertura, somos apresentados a outro personagem. Vamos a outro momento musical. Uma sequência de tortura depois, vamos a mais um personagem. Troca a música. Quatro minutos de filme e três músicas depois, Amanda Waller (interpretada por Viola Davis) começa a apresentar seu projeto de juntar prisioneiros para formar uma equipe tática a dois figurões de Washington. Começam os problemas de "Esquadrão Suicida".
Apresentar personagens é uma tarefa difícil, principalmente quando a trama depende da empatia do público com personagens teoricamente desprezíveis, o que leva ao filme a gastar quinze minutos apresentando alguns membros dessa equipe (sim, nem todos são apresentados depois de tanto tempo) para a cena seguinte ser uma versão resumida da longa explicação que acabamos de ver.
O longa quer ao mesmo tempo gráficos coloridos, músicas icônicas que gritam o óbvio, piadas e ser um filme sujo, escuro e sério. A utilização da música, aqui supervisionada por Season Kent (que eu havia elogiado em textos anteriores aqui) e claramente inspirada no que foi feito em "Guardiões da Galáxia", é bagunçada, uma vez que o filme insiste em enfiar constantemente músicas ao longo de suas cenas, criando uma playlist sensacional do Spotify, mas que na tela se torna algo cansativo após os primeiros vinte minutos e que infelizmente não para até o longa dar o seu último suspiro.
Você precisa ter uma história cujas cenas levam ao que precisa ser mostrado dos personagens e da trama que você quer contar. Aqui em "Esquadrão Suicida" não temos isso. O filme em vários momentos dá a impressão que vai começar sua trama, apenas para ser interrompido por flashbacks que, por mais que mostrem uma ou outra coisa relacionada aos personagens menores do esquadrão, se concentram na relação entre Arlequina (Margot Robbie) e Coringa (Jared Leto). Além de mal colocadas, essas cenas são completamente desnecessárias para a trama principal, servindo apenas para inflar o tempo de filme.
Aliás, o Coringa de Jared Leto, tão alardeado durante a produção do filme (faltam-me dedos para contar o número de vezes onde ele supostamente teria feito algo bizarro por estar "dentro demais do personagem"), mostra-se uma imitação barata de maneirismos que fizeram o Coringa de Heath Ledger funcionar e a dicção de um Jack Sparrow asmático, deixando claro a falta de confiança do estúdio com o longa, jogando constantemente outros personagens mais conhecidos do universo DC nesses momentos.
Como era de se esperar, o protagonismo do filme ficou com os membros mais conhecidos seu elenco. Will Smith aqui encarna a persona que o levou ao estrelato, mostrando um Pistoleiro carismático e que se importa com a sua filha (por mais que o fraco roteiro de Ayer sempre tente sabotar seus personagens e motivações). Margot Robbie encara competentemente o papel da Arlequina, o único problema com isso é que a personagem se limita a ser uma página ambulante do Tumblr, quererendo escancarar a cada cinco minutos sua suposta insanidade enquanto usa shorts curtos. Jay Hernandez como El Diablo é competente, mas não tem muito o que fazer a não ser dar diálogos expositivos. Joel Kinnaman também ganha um pequeno destaque ao encarar o militar-bom-moço Rick Flag, que é responsável por liderar o time, mantê-lo na linha por motivos óbvios e por sua ligação com a vilã Magia (Cara Delevingne), que deseja abrir um buraco no céu para chamar os Chitauri destruir a Terra e o Quarteto Fantástico trazer fantasmas à Nova York destruir o mundo, eu acho.
O resto do elenco nada pode fazer, uma vez que o filme tende a colocá-los de lado, até mesmo durante a batalha final, deixando eles limitados a piadas de uma fala só ou momentos emocionais embaraçosos, como é o caso da personagem de Katana (Karen Fukuhara), que fica limitada a ameaças de usar a espada "que prende as almas de quem ela mata", poder esse que nunca é de fato usado durante o filme. Essa negligência com os personagens leva o terceiro ato a tentar forçar laços entre esses personagens que passaram apenas um dia juntos (o termo "família" é utilizado várias vezes em poucos minutos).
A luta final se limita a ser a cansativa história de "grupo luta contra um exército sem rosto e tenta parar um raio azul no céu", o que leva ao problema com as cenas de ação: filmes de ação envolvendo grupos é sempre uma oportunidade grande para criar grandes cenas divertidas de ação com os seus personagens, mas o que recebemos aqui são sequências bagunçadas, que limitam os membros do grupo a atacarem um de cada vez o mesmo inimigo. Quer dizer, o que realmente fazem alguma coisa nas cenas de ação.
E se o conceito do combate final não funciona, a situação da vilã e seu irmão, uma criatura milenar feita por um computador tão antigo quanto ele (o visual parece ter saído direto dos restos mortais de "Deuses do Egito") é pior ainda, já que suas motivações são confusas e sua participação se limita a uma espécie de dança que pode servir para a próxima festinha da faculdade. Além disso, o fato da vilã ter sido criada pelas pessoas que resolveram criar o Esquadrão é algo que não faz muito sentido, mas é o que recebemos para continuar com a trama.
Quando "Esquadrão Suicida" finalmente termina, a sensação é que passamos um dia todo com personagens esquecíveis, um roteiro fraco e uma direção que não lembra em nada a do mesmo diretor que trouxe filmes como "Marcados Para Morrer" e "Corações de Ferro". "Esquadrão Suicida" muito mais parece o trabalho de um diretor de primeira viagem em uma adaptação de videogame, que pensou que o excesso de estilo fosse ajudar como maquiagem.
Nota: 1.5/5
Nota: 1.5/5